Perimenopausa pra gente, puberdade para eles
Se tem uma coisa que eu aprendi com a perimenopausa é que os hormônios são definitivamente a orquestra que rege a nosso corpo, o nosso sentir e consequente o nosso viver. Aprendi também que tanto na puberdade (de meninos e meninas), quanto no puerpério, quanto na perimenopausa a orquestra dá uma desafinada das boas.
Então consegue imaginar o que é ser mãe de um adolescente enquanto se está atravessando a perimenopausa?
De um lado um mundo onde os hormônios estão caindo, do outro um mundo onde os hormônios estão subindo.
De um lado irritação, angústia e ansiedade pelos hormônios estarem despencando, do outro a mesma coisa por eles estarem voando alto.
De um lado pode ter cansaço, pouca energia, deprê, do outro ânimo para dar e vender, mas também momentos intensos de tristeza, raiva, e confusão tentando se construir como pessoa.
De um lado começando a sentir na pele, mas principalmente no cérebro o passar do tempo, do outro o colágeno tinindo, o cérebro ainda se desenvolvendo fresquinho.
Mundos opostos mas que estão passando, ao mesmo tempo, por um momento de transição.
Consegue entender a densidade, o descompasso, a confusão desses mundos se relacionando? Impossível não haver choque.
Nós, saudosistas, vivendo o luto não só da infância deles, mas também de uma fase feminina tão nossa que está ficando para trás. Isso tudo lidando com batidas de porta, respostas atravessadas, afastamento, os hormônios deles em looping, enquanto os nossos estão devagar quase parando.
Tudo é intenso, tudo é muito, para os dois mundos.
Mas sabe o que eu tenho percebido?
Viver a perimenopausa enquanto os meus filhos estão vivendo a puberdade me faz entendê-los de uma forma mais profunda, cria empatia. Consigo enxergar com mais clareza a vulnerabilidade que mora no mundo deles porque aqui, dentro do meu mundo, estou vulnerável também.
É denso, descompensado?
É sim, mas se a gente cuidar deles sem esquecer da importância de cuidar da gente, conseguimos nos atentar para os detalhes e perceber que a convergência desses dois mundos pode ser profundamente bonita, potente e transformadora também.
Texto de Thais Vilarinho : @maeforadacaixa
Autora do livro: Imagina na adolescência