Tá tudo certo: A aposta do Disney+ que não deu tão certo assim
Tá tudo certo é uma produção original da Disney plus que prometia interligar o mundo fictício ao real através da música. Chegou ao streaming no dia 12 de abril de 2023, mas não durou muito no catálogo. No último sábado (27), a Disney a retirou do serviço e deixou a pergunta: Por quê?
A série conta a história de Pedro (Pedro Calais, vocalista da banda Lagum), um estagiário de Direito em uma gravadora que sonha em seguir carreira na música. Ele acaba conhecendo Ana (Ana Caetano, da dupla AnaVitória) e a partir desse encontro vai enfrentar o dilema entre sentimento e razão. Fazem parte da série vários grandes nomes da música brasileira, como Toni Garrido, Rubel, Manu Gavassi e Vitão.
Tá tudo certo conta com grandes nomes não só no elenco, como também na equipe de produção. A ideia original foi de Felipe Simas que, ao lado de Raphael Montes (autor do best-seller Bom dia, Verônica), escreveu a história vista nas telas. Os cantores Rubel e Júlia Mestre (integrante da banda Bala Desejo) também participaram do processo de roteirização, além de atuarem como personagens. A direção contém Rodrigo César e Mayara Constantino como diretores de cena e Felipe Simas como diretor-geral.
A história repete a química vista no clipe de Universo de coisas que eu desconheço, música que faz parte da trilha-sonora da série e que dá o nome do terceiro episódio. Nela, Ana Caetano e Pedro Calais interpretam um casal. Mesmo em quatro minutos de vídeo, o efeito deles juntos é estarrecedor. É impossível não ficar envolvido pela troca dos dois em cena.
Ter Ana Caetano e Pedro Calais como casal principal foi uma decisão acertada que já tinha indícios de dar certo. Mas por ser uma série que foca no público infanto-juvenil, as interações dos dois são bem diferentes do que é visto no clipe. Afinal, a música trata de um relacionamento adulto e o clipe traz cenas sugestivas, além de ter bebida e cigarro como elementos. Além disso, Tá tudo certo explora mais a atuação dos dois do que o clipe, no qual não há falas. O que é suficiente para dar um clima diferente à troca deles em cena.
As atuações talvez tenham sido um ponto incômodo para o público. Vale lembrar que a série é toda composta por cantores e músicos no elenco cuja maioria atuava pela primeira vez. O próprio Pedro Calais estava em seu primeiro trabalho como ator, mesmo sendo o protagonista. Apesar do facilitador de estarem interpretando a si mesmos, a escassez de atores profissionais fez falta na sustentação da história. Entre os poucos nomes do teatro e audiovisual, está Cynthia Senek, a vilã.
O roteiro também deixa a desejar. Em uma tentativa de inovar e fazer de tudo um pouco, a série acaba pecando no desenvolvimento e aprofundamento dos personagens e dos conflitos. E a inovação a qual se propôs ao contar sua história através de um panorama real da música contemporânea brasileira, se perde nos clichês presentes ao longo do enredo.
Apesar dos problemas, a série não foge muito do padrão já feito pela Disney aqui no Brasil. O roteiro não muito elaborado e as atuações iniciantes já eram um padrão dos produtos audiovisuais originais focados nos adolescentes. Isso dificulta entender as razões para que Tá tudo certo tenha sido retirada do catálogo.
Principalmente porque existem qualidades que merecessem ser ressaltadas. Para quem é fã, ou ao menos aprecia, algum dos cantores e/ou bandas que aparecem, a série é um prato cheio de piadas e referências que enriquecem a experiência de quem está assistindo. Também é uma experiência muito válida para aqueles que conhecem poucos ou nenhum dos nomes presentes. As cenas de cantoria são bonitas e apresentam tanto músicas autorais quanto covers de hinos da história da música brasileira.
Entre as partes boas da série, o carisma de Pedro Calais e Rubel merece destaque. Os dois roubaram a cena e trouxeram leveza e humor aos seus personagens. E, apesar de o protagonista ser mais sério e centrado que Pedro Calais, quem acompanha o cantor possivelmente irá perceber alguns vestígios no personagem.
Embora Tá tudo certo não fosse a aposta principal da empresa, foi possível enxergar que houve um investimento considerável para a série. Embora tenha falhado em marketing e divulgação, insuficientes e incompatíveis com o alcance que buscavam.
A justificativa para retirar a série da plataforma foi uma estratégia para economizar custos. Não se sabe se é uma decisão temporária ou permanente. O que nos resta agora é torcer para que Tá tudo certo retorne ao catálogo. Afinal, os quatro episódios eram uma ótima pedida de um conteúdo leve para se distrair.
Ficha técnica:
Título original: Tá tudo certo
País de origem: Brasil
Produtoras: Non stop e Formata Produções e Conteúdo
Distribuido por: Disney+
Data de estreia: 12 de abril de 2023
Diretores: Felipe Simas, Mayara Constantino e Rodrigo César
Duração: 132 minutos