Mega enrolação(dois)

Mega enrolação(dois)

Megatubarão 2 enrola demais e se perde, mas tenta achar seu caminho nas águas turvas.

Megatubarão 2, dirigido por Ben Wheatley, dá sequência ao primeiro filme sem sair do lugar, repetindo os defeitos e dando um suspiro de qualidade nos momentos em que se reconhece como o que é.

 Como franquia, Megatubarão se enquadra numa tendência de blockbusters – se é que é cabível chamá-lo assim – mais recentes que não consigo descrever ao certo, mas sinto que é muito flagrante: a necessidade de ser tudo ao mesmo tempo. Esses filmes de grande orçamento querem ser dramáticos, engraçados e tensos dentro de todo um universo criado a partir de umas atrocidades científicas – o que não é nenhum problema, diga-se -, mas são medíocres ou nem isso em tudo.

  Sinto que essa tendência vem de filmes de super-heróis e de franquias como Velozes e Furiosos e, na busca por apelo popular e bilheteria, se tornam repetitivos e causam o sentimento de um completo esvaziamento criativo. Às vezes parece que eu já conheço um personagem de um filme que nunca vi simplesmente porque são todos iguais, sem qualquer profundidade e com uma ausência de carisma que impressiona. 

  Sinceramente, não consigo lembrar, de cabeça, o nome de nenhum dos personagens de Megatubarão 2, por exemplo, porque nenhum parece estar ali por algum motivo que não seja soltar umas piadas sem graça – raramente tem umas boas, mas admito que existem – que, geralmente, quebram todo o ritmo dramático ou tenso que, de maneira completamente tosca, tentam imprimir. 

  Quando a tentativa é dramatizar, fica tosco. Quando é fazer rir, fica forçado. Se é fazer terror, fica previsível e pouco assustador, o que é bizarro quando se trata de um gênero, vulgarmente conhecido como “filme de tubarão”, que surge como isso. Se é botar um protagonista completamente invencível e capaz de tudo, aos moldes de Indiana Jones e Ethan Hunt, conseguem se esvair de todo o charme. Ah, quando a tentativa é fazer ficção científica, esquece: é ridículo e rompe as barreiras do constrangimento. 

  Não que eu entenda alguma coisa de ciência e entendo que existem coisas que devem fazer sentido nesse mundo particular que todo filme cria e adiciona novas possibilidades, mas é só muito ruim e tenta se misturar com um ativismo ambiental infantil que faria qualquer pessoa um pouco mais preocupada com isso sentir dor física.

  Tudo que acontece no filme, seja na primeira ou nessa segunda versão da franquia ou em qualquer blockbuster de ação, transmite essa coisa da criatividade nula. Diálogos completamente superficiais e com interpretações terríveis para personagens que já são descartáveis por si mesmos, cenas de ação com coreografias péssimas e algumas tentativas de frases de efeito que eu jamais vou perdoar Vin Diesel e os Velozes e Furiosos por terem lançado essa moda das frases de efeito sem efeito. 

  A franquia Megatubarão é, no fim das contas, só mais um desses, mesmo que tenham algumas coisas legais. No primeiro filme, por exemplo, existem uns 15 minutos de cena numa praia lotada que é uma aula. Tipo de coisa que você assiste e pensa: “Isso é filme de tubarão, pô!”. O cachorrinho correndo, o homem correndo na bolha, as pessoas subindo nas coisas, a gritaria, a trilha – que é muito legal, inclusive – e um (mega)tubarão ficcional do jeito que tem que ser: impiedoso, infalível e misterioso. 

  Em Megatubarão 2, o auge do filme é quando ele sai levemente e também por pouco tempo desse marasmo criativo e, finalmente, parece se entender, se reconhecer como um clássico besteirol. As cenas do mega na praia abraçam a bobeira e se reconhecem, de certa forma, como uma comédia que diferencia a cena da do primeiro filme e, finalmente, conseguem arrancar muitas risadas. Conseguem atingir aquilo que é um dos objetivos principais do cinema: causar sensações e tornar a experiência divertida ou seja lá que sentimento for. Tudo isso, mesmo que por pouco tempo, porque finalmente se reconheceram, se entenderam.

  A verdade é que, quando os personagens não tão falando ou disputando corrida na água com um megalodon, fica até um pouco divertido. Por mais filmes que se poupem nos diálogos – a menos que não sejam ruins – e se aceitem dentro de suas vocações, entendendo que não tem problema parecer fora do que se entende como “bom”. Coisa que Megatubarão 2 não é, infelizmente, mas pode ter encontrado seu caminho. 

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Caio Azevedo

19 anos, estudante de Jornalismo pela UFRRJ.

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