Crítica: Velozes e Furiosos 10

Crítica: Velozes e Furiosos 10

Assistindo ao novo Velozes e Furiosos, eu quis ser o Dominic Toretto (Vin Diesel). Não só pela adrenalina, sensações radicais e experiências que todo mundo tem vontade de viver quando assiste, mas também porque eu queria fugir correndo da sala de cinema. E nem precisava ser com um carro legal.

  No décimo filme da franquia, o mínimo que eu esperava era ver algo meio enjoativo, duvidando que seria alguma coisa diferente ou mais legal do que os outros nove. Acho que eu estava certo nessa suposição, só não achava que ia ser tão entediante. Numa vontade insaciável de fazer comédia, colocando o personagem brasileiro que não fala português, Dante (Jason Momoa), para passar duas horas fazendo umas piadas soltas, sinto que o filme fracassou porque, ao menos na minha sessão, eu ouvi e dei mais risadas nos momentos em que o filme tenta passar um ar de reflexão, conflito ou nas cenas de ação mesmo do que nas piadas ruins que o roteiro preparou. 

  Por algum motivo, parece que foi criada uma pseudo divisão entre pessoas que gostam dos filmes ditos populares, a franquia em questão inclusa, e pessoas que odeiam esses e gostam dos supostos “cults”, que geralmente nem sequer existem, mas viraram argumento – por motivos mais complexos do que parecem ligados à indústria – para quem finge que gosta de Velozes e Furiosos e nem assiste só para se enquadrar no primeiro grupo de gente “legal”. Dito isso, falo isso aqui porque penso, enquanto escrevo, se não faço parte desse grupo de gente “chata” que não se permite gostar de um filme como Velozes e Furiosos 10, mas não consigo me convencer de que não é chato assistir a um filme com uns diálogos completamente toscos, um desrespeito imparável ao meu próprio país e uma história sem qualquer nexo baseada numas conveniências que me incomodam bastante e, inclusive, fecham portas para narrativas que poderiam ser muito mais interessantes sem precisar abandonar as perseguições e rachas que, de fato, são legais às vezes.

 Sobre a “história sem qualquer nexo” que citei, vale dizer que é óbvio que deve ter algum nexo e quem realmente acompanha a franquia e está mais inteirado que eu deve ter entendido melhor e ficado entretido com as mortes, reviravoltas e traições que rolam, mas eu acho muita doideira como as coisas acontecem do absoluto nada no filme. O próprio Toretto (Vin Diesel), por exemplo, foi o sujeito mais procurado do mundo na ficção e simplesmente saía andando pelas ruas do Vaticano e ia pra uns bares como se nada tivesse acontecendo, entre dezenas de outras coisas que, enquanto eu assistia, me pegava pensando se era eu que estava sendo chato de me incomodar. Fora isso, tem um excesso impressionante de personagens, aparentemente devido ao acúmulo de 9 filmes, que me fizeram ficar perdido várias vezes no que acontecia e, junto de outros motivos, tiraram um pouco do foco daquilo que tenta ser o centro narrativo: a disputa entre Dom e Dante.

  Seguindo na crítica ao roteiro, eu nem quero entrar tanto na questão cultural relacionada ao Brasil porque é um tema para ser discutido de maneira mais ampla e com cuidado, mas também não consigo digerir que não possam mostrar um brasileiro sequer que não seja criminoso ou uma brasileira que não tenha como função única ficar rebolando no baile, inclusive botando a Ludmilla no filme como se fosse uma homenagem ao país, mas é só a cantora, uma representante da nossa cultura, aparecendo também rebolando por uns 10 segundos no meio de um baile habitado exclusivamente por gente armada e/ou rebolando. Eu ainda ia falar que seria legal ao menos escolher gente brasileira ou que fale português de verdade para interpretar os personagens daqui, mas o roteiro não se dá nem ao trabalho de botar gírias cariocas ao invés de gírias paulistas sendo faladas nas favelas do Rio, imagina escolher um ator brasileiro para atuar e, quem sabe, dar uns toques em quem estava envolvido em tudo isso para não parecer algo tão tosco para quem é daqui.

  Entendo perfeitamente quem consegue só ignorar tudo que eu citei e gostar do filme por causa das cenas de ação e tudo mais, mas a real é que nem isso me empolgou. E não é porque eu não gosto de filmes de ação ou algo do tipo, eu só acho que os contextos e coreografias das cenas são suficientemente toscas e mal feitas, sem a intenção de parecer algo mal feito, para eu não me sentir empolgado vendo, e olha que eu assisti tudo me permitindo fingir que as leis da física não existem, não é esse o caso. Não tenho a intenção de bater um martelo definitivo sobre ser um filme ruim porque não é nem algo possível, mas, para mim, a experiência de assistir à Velozes e Furiosos 10 foi péssima, e o final do filme que praticamente anuncia a vinda de mais alguns longas soou como uma ameaça para mim depois de 140 minutos que não foram nada velozes, mas me deixaram furioso.

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Caio Azevedo

19 anos, estudante de Jornalismo pela UFRRJ.

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