O tempo cobra, Indy
A missão de finalizar uma franquia tão clássica e grandiosa era gigante para “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”, principalmente com o contexto de estar há tanto tempo sem um filme, com o anterior já não tão marcante, Harrison Ford mais velho e Steven Spielberg já aposentado como diretor. Diante desse desafio, James Mangold, na tentativa de “modernizar”, entregou um filme esquecível que, mesmo que mantenha uma linha narrativa em relação à franquia, deixa a sensação de ter abandonado a identidade que fez Indiana Jones ser tão inesquecível.
A proposta de uma volta às origens do primeiro filme num contexto de segunda guerra no qual Harrison Ford é uma espécie de herói antinazista, é divertido e nostálgico, mas eu acho impossível não se incomodar com aquele terrorismo que foi a tentativa de fazê-lo parecer jovem através de inteligência artificial. Mesmo envelhecido, Ford não perde a majestade e justifica muito bem a posição de ícone dos filmes de ação, patamar em que se colocou ao lado de nomes como Tom Cruise e Keanu Reeves na criação de todo um imaginário quando se fala do gênero, e o “rejuvenescimento” dele no filme é uma das coisas que faz a experiência, que poderia ser um fechamento bonito para a saga, se tornar só mais um produto genérico que perde muito do refino estético que, para mim, era o grande trunfo dela nas mãos de Spielberg, sempre com figurinos e cenários que carregavam um charme geracional.
Ainda nessa tentativa de modernização da saga, mesmo que isso entre em conflito com o fim da mesma e com a retomada de temáticas dos filmes anteriores, o novo filme consegue traçar essas duas linhas ao mesmo tempo de maneira bem interessante. O roteiro e a performance de Ford deixam claro que Indy, velho e, de certa forma, tratado como retrógrado pelo filme, ainda é o grande personagem mítico que se tornou, mas abandona a posição heróica e infalível que tinha antes. Essa posição de assumir o fim é, além de bonita, muito bem passada por Mangold e Harrison, e se manifesta também na passagem de bastão que foi feita à Helena Shaw, vivida por Phoebe Waller-Bridge, e Teddy Kumar, muito bem interpretado por Ethann Isidore, que assumem o protagonismo e a grandeza do velho Indy nas cenas de ação, mesmo que os diálogos de ambos os personagens sejam tão artificiais quanto o resto do filme, que não ganhou um final à altura do que merecia. Para quem teve tanto medo de cobra durante a vida, Indy viu ela e o tempo fazendo sua cobrança e unindo o que há de bom e ruim no filme que encerra a história de um personagem que manteve a beleza de ser quem é até o fim, mesmo que “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” não seja tão histórico.