O sonho melódico de Claudinho e Buchecha
Com fórmula já tradicional, “Nosso Sonho” conta a história de Claudinho e Buchecha numa boa representação da dupla e do cinema nacional.
Quase sempre adotando um tom dramático, filmes biográficos no Brasil foram muito comuns nos últimos anos e relativamente populares, maioria contando histórias de personalidades importantes da música.
Os principais filmes desse tipo feitos no Brasil conseguem ser amplos no que diz respeito ao gênero musical do(s) protagonista(s), passando pelo Sertanejo, Soul, MPB, Bossa Nova, Samba e Rap. “Nosso Sonho” é o primeiro a falar de funk.
O funk como cultura é anterior a Claudinho e Buchecha. Como um gênero musical popular e reconhecido mais amplamente para além das periferias carioca e fluminense, ele se confunde com a história da dupla. E o maior mérito de Eduardo Albergaria, diretor do filme, é retratar isso.
A partir da perspectiva de Buchecha(Juan Paiva), que narra e protagoniza o filme, “Nosso Sonho” mostra como foi construída a relação dele com Claudinho(Lucas Penteado) e como as relações familiares impactaram a vida do artista, ao mesmo tempo em que o funk funciona quase como uma válvula de escape para o enredo.
As cenas que mostram o começo da amizade, ainda na infância de ambos, já seguem a tendência que o filme – e o gênero em si – tem de dramatizar exageradamente e falham ao tentar criar uma proximidade entre eles, que tentam sustentar com um caso de afogamento em que um salva o outro. A notícia ruim é que essas cenas são bem mal feitas, a boa é que eles conseguem se salvar – tanto a dupla quanto o filme.
O reencontro entre eles acontece após uma briga na casa da mãe de Buchecha com o pai, que faz o menino, ainda novo, buscar abrigo na casa da tia, no Salgueiro. Depois de mais essa tentativa de dramatização, dessa vez um pouco mais bem sucedida, o filme ganha o que foi, pra mim, o ponto alto.
A chegada de Buchecha na favela aconteceu quase simultaneamente ao reencontro com o amigo de infância, que foi morar no Salgueiro muito tempo antes. Aquele momento do encontro, seguido da ida ao baile, consegue gerar um pico de nostalgia e empolgação que culmina numa cena tão linda e emocionante que parecia até que eu estava exatamente ali, aproveitando o baile com eles e entrando na roda de briga enquanto dançava.
Esse sentimento de nostalgia e empolgação, tão particular, intenso e reconhecível quando se trata de funk melody, passa a ser frequente no filme e alcança o ápice na cena do primeiro show da dupla, que remete ao entendimento do funk não só como um gênero, mas, como dito, um movimento cultural dos mais únicos que existem, retratado de forma sutil e maravilhosa pelo filme.
As dramatizações seguem, muitas vezes, quebrando um pouco o ritmo nostálgico e divertido que torna o filme tão interessante manifestadas justamente nas cenas dos shows e nos momentos que focam em mostrar a ascensão de Buchecha na vida, nas transições do seu trabalho como office boy e nas mudanças que foram acontecendo na vida, sempre se apoiando maravilhosamente bem no carisma que Lucas Penteado, como Claudinho, carrega e empresta ao personagem para tornar a experiência ainda mais legal.
A cena do orelhão, por exemplo, se tornou representativa por ser uma das mais engraçadas e misturar tudo isso que envolve nostalgia, ascensão e divertimento que, quando não quebradas pelas cenas mais tensas, tomam um ritmo muito apropriado e coerente, divertido como o sonho que eles sonharam e viveram.
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