Homenagem musical a Bruno Pereira e Dom Phillips une Sebastião Salgado e Villa-Lobos no Rio

Homenagem musical a Bruno Pereira e Dom Phillips une Sebastião Salgado e Villa-Lobos no Rio

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresenta, no dia 23 de julho, às 20h, o Concerto Amazônia em memória do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.

No programa, as imagens de Sebastião Salgado encontram a épica obra musical de Heitor Villa-Lobos, Floresta do Amazonas.

Com direção e regência de Simone Menezes, a apresentação conta ainda com Águas da Amazônia, de Philip Glass, trazendo a atualidade do tema não apenas para a música contemporânea, como para a complexidade da situação política da região.

Sinopse

Durante seis anos, Sebastião Salgado cruzou a Amazônia brasileira, fotografando a floresta, os rios, as montanhas, o povo que lá vive. Esse universo profundo, onde o poder imenso da natureza é sentido como em poucos lugares do planeta, gravou no olhar do fotógrafo imagens extraordinárias, reveladas agora ao público pela primeira vez, em exposições e no presente concerto.

Neste programa, as imagens épicas e comoventes de Sebastião Salgado encontram a música de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que desenvolveu uma etnomusicologia ouvindo os cantos indígenas, os pássaros e a natureza, com os quais produziu uma de suas maiores obras, Floresta do Amazonas.

Villa-Lobos tinha 72 anos quando foi contratado pela MGM para compor a trilha sonora de Green Mansions, longa-metragem estrelado por Audrey Hepburn e Anthony Perkins, ambientado nas florestas tropicais da Venezuela. Seria sua primeira trilha sonora e, como se viu, também a última – ele morreu no ano seguinte. Infelizmente, não foi o sucesso que ele esperava. Sendo novo em compor para a tela grande, Villa-Lobos escreveu uma enorme partitura sinfônica para orquestra completa, provavelmente supondo que a trilha acompanharia o filme todo. Mas apenas fragmentos de sua obra acabaram sendo usados, e mesmo assim adaptados e reorquestrados sem sua consulta. Villa-Lobos ficou com oitenta minutos de música rejeitada, que não seria usada nem ouvida, a menos que fosse reaproveitada em outro lugar. Assim nasceu sua Floresta do Amazonas, um poema sinfônico da paisagem brasileira. É uma música profundamente visual e evocativa: um filme musical à sua maneira.

Floresta do Amazonas tornou-se a última grande obra de Villa-Lobos e, no entanto, essa extraordinária partitura quase não foi ouvida nos cinquenta anos seguintes, permanecendo intocada na biblioteca do compositor em sua forma original manuscrita, inédita e não executada. Foi finalmente resgatada em 2004 e gravada comercialmente, antes de ser novamente revista em 2017. Para Simone Menezes, é uma obra que a intriga há anos. “Floresta do Amazonas é música de uma beleza incrível. Cada movimento nos leva ao coração de diferentes paisagens da Amazônia. Alguns movimentos cantados são pura poesia.” Foi então uma imensa alegria quando a Filarmônica de Paris convidou Simone para trabalhar com Salgado para criar este concerto para ser tocado com sua exposição. Trabalhando juntos durante meses no projeto, Salgado, também admirador de Villa-Lobos, empenhou-se inteiramente em encontrar as imagens para esta música.

A justaposição de pessoas e lugares também é lindamente capturada nas duas obras que formam um prelúdio da Suíte de Floresta do Amazonas nesta apresentação. A primeira é extraída de uma das nove suítes que compõem as Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos, as quais foram compostas para diversas combinações instrumentais e vocais entre 1930 e 1945. Combinando elementos do estilo bachiano e do contraponto com a tradição brasileira de ritmos e melodias, as suítes representam uma tentativa deliberada de aplicar procedimentos barrocos à música folclórica brasileira, como deixa claro o título.

O Prelúdio da Suíte No.4 foi originalmente composto para piano e posteriormente adaptado para uma versão para orquestra de cordas. É melancólico e nostálgico, construído em torno de um simples motivo repetido, que se eleva e suspira acima de uma linha de baixo gradualmente descendente. Villa-Lobos acreditava que o canto coletivo era a cura para os problemas da humanidade e, à medida que o Prelúdio avança, ouvimos novas vozes se unindo em solidariedade. Os dispositivos musicais que utiliza são simples, uma homenagem às práticas barrocas, mas com sutis efeitos texturais e harmônicos, Villa-Lobos os transforma em uma obra apaixonada, fílmica e profundamente comovente.

Ele é acoplado aqui com “Metamorphosis I”, de Philip Glass (n. 1937), parte de Águas da Amazônia (1988), arranjada para orquestra por Charles Coleman. Originalmente composta para a companhia brasileira de dança-teatro Grupo Corpo, Águas da Amazônia se inspira nos rios do Brasil, cada um dos quais dá nome a um dos movimentos. A “Metamorphosis I” é a única exceção a essa regra, oferecendo uma viagem musical mais abstrata e imaginada ao longo de um rio sem nome. Para Menezes, é o complemento perfeito para a partitura de Villa Lobos. “Philip Glass olha a floresta de fora, enquanto Villa-Lobos nos dá uma visão do interior”, escreve.

Destilar a magnitude da partitura original de 80 minutos de Villa-Lobos na Suíte de Floresta do Amazonas para os 45 minutos que são aqui apresentados não foi tarefa fácil, mas Menezes adotou uma abordagem que une praticidade com integridade. A partitura original de Villa-Lobos inclui movimentos para coro de vozes masculinas (cantadas em tupi-guarani) e canções solo cantadas em português. Cada movimento nos leva a uma viagem a uma paisagem amazônica diferente, cada uma com seu próprio conjunto de imagens correspondentes. “Eu e o Sebastião Salgado trabalhamos de perto para aumentar o dinamismo proveniente da música e das imagens”, explica Menezes. “Salgado usou diferentes grupos de imagens para diferentes movimentos de uma forma muito orgânica: para movimentos como A Floresta ele usou fotos aéreas; para Dança de Guerra ele usou homens nativos da Amazônia indo caçar; para a Dança da Natureza, ele usou os retratos de mulheres nativas da Amazônia.

“Heitor Villa-Lobos disse que sua música deveria ser vista como uma carta para a posteridade”, explica Menezes. “Este projeto musical nos convida a descobrir vários tesouros, mas sobretudo a riqueza da Floresta Amazônica, esse tesouro da humanidade que deve ser protegido.”

AQUI você tem mais informações.

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