Liberdade de Imprensa – Alerta quanto à modernidade da comunicação
Ontem foi o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Me orgulho em lembrar que, quando era editor geral de jornalismo e superintendente adjunto da tradicional e líder mineira TV Itacolomi (extinta em 1980 pelo governo João Figueiredo) fui um dos quase três mil jornalistas que apoiaram um corajoso manifesto exigindo o fim da censura – um dos malefícios do regime militar que implantou o AI-5.
Hoje, a imprensa livre, além do atual desgoverno enfrenta um adversário chamado fake news. Permitam-me ser um pouco didático: através de toda a história da humanidade, até bem recentemente, a fala era o único meio de comunicação realmente importante. As pessoas podiam se comunicar diretamente apenas em distâncias que podiam ser alcançadas por suas vozes, ou, em alguns casos, pela visão de gestos. Para distâncias maiores eram necessários mensageiros, como Fidípedes – que em 490 a.C. caiu morto após correr 42 quilômetros para dizer aos atenienses que os persas haviam sido derrotados em Maratona. Veio daí a Maratona, a clássica prova das Olimpíadas.
Com o desenvolvimento do alfabeto e sua assimilação por um número cada vez maior de pessoas, a comunicação também passou a ser feita por escrito para grandes extensões. Mas também tinham de ser transportadas por alguém – caminhando, galopando ou navegando. Mesmo as substituições, dois séculos atrás, do cavalo pela estrada de ferro e do barco a remo por navios a vapor, não deram grande rapidez aos comunicados. Claro que existiam outros meios, como sinais de fumaças por indígenas e reflexos de luz através de superfícies brilhantes, mas que dependiam de condições atmosféricas e podiam ser captadas por qualquer pessoa e não apenas pelos destinatários.
O uso de corrente elétrica através de fios surgiu como alternativa. Em 1.844, utilizando o código para o qual deu o seu nome, Samuel Morse enviou a primeira mensagem telegráfica da história: “Que foi que Deus fez”. Apenas 22 anos mais tarde, já existiam cabos telegráficos submarinos estendidos através do Oceano Atlântico, ligando os Estados Unidos à Inglaterra.
Em 1.876, outro avanço espantoso: Graham Bell patenteou o telefone, invento revolucionário que transmitia a voz humana por fios ao invés de um código de pontos e traços. Com a facilidade, a comunicação começou a ser também fútil em grande escala. Em 1.888, Heinrich Hertz aprendeu a maneira de produzir e captar ondas de rádio; 13 anos além, Marconi utilizou estas ondas e conseguiu enviar mensagens atravessando o oceano Atlântico. Em 1.890 foi comprovado que a corrente elétrica envolvia partículas menores do que o átomo. Cinco anos depois, Thomson descobriu o elétron que, por ser ainda mais leve do que átomo, tornou possível manipulação no vácuo e o surgimento, em 1.906, da chamada “válvula de rádio”. Tudo se acelerou em 1.948 com o transistor, que nada mais é do que o equivalente em estado sólido à válvula de rádio, não possui vácuo e por ser minúsculo não precisa ser pré-aquecido. Os gigantescos computadores iniciais deram lugar a aparelhos de espaços mínimos, à exemplo dos celulares e smartphones que hoje todo mundo possui.
Deixando a história mais recente de lado (em especial o surgimento da Internet, detalhadamente previsto em antigos livros de Isaac Asimov), é preciso salientar que o que realmente nos diferencia das outras espécies de vida, é a comunicação, a troca de ideias, de informações, com a qual a inteligência se expande e pela qual o conhecimento de um ser pode ser o conhecimento de todos.
O mundo não vive mais numa clausura, mas…
Mas temos que ficar em estado de permanente alerta para o perigo que hoje enfrentamos com a comunicação desenfreada e sem nenhum controle quanto à sua veracidade. Se assistir a um telejornal, ouvir rádio ou ler jornal, não garantem que estamos conhecendo realidades, muito menos – em escala perigosa – participar de redes sociais que viralizam mundo afora, grande parte delas criando notícias mentirosas divulgadas (e nem sempre desmentidas) por poderosos órgãos de imprensa.
Para complicar de vez, se tornou mais difícil saber o que é ou não verdade. Você, caro leitor, o que acha? Se não sabe, pelo menos faça a sua parte, desconecte-se de redes sociais suspeitas, alerte e ajude a controlar o ímpeto de crianças, jovens e adultos inocentes ou mal-intencionados de acessar páginas não confiáveis. E mesmo quando tudo parecer “do bem”, verifique, pois existem casos de hackers invadindo até sites infantis para propagar o mal. De qualquer forma, o que não podemos é permitir uma abominável censura à liberdade da verdadeira imprensa!
Sergio Prates, Jornalista.
E-mail pratesergio@terra.com.br