Comemorando detalhes: crítica de Besouro Azul
“Besouro Azul” parece tentar ser alternativo, diferente e “moderno”, mas cai nos mesmos clichês de sempre e não consegue ser mais do que só mais um blockbuster de super herói.
A direção do porto-riquenho Ángel Manuel Soto, junto do elenco majoritariamente formado por latinos num filme sobre um super-herói latino é uma clara tentativa da DC de abraçar essa pauta identitária para vender. Acontece que muito do que é legal no filme se dá por conta dessa identificação mesmo. A casa, a formação da família e os traços culturais que envolvem Jaime Reyes(Xolo Maridueña), o Besouro Azul, fazem parte dessa criação de um personagem de fácil identificação.
Essa criação de heróis que parecem com o telespectador é, obviamente, estratégia – velha, inclusive – e Jaime abraça um público que nunca se viu representado dessa maneira num filme dessa dimensão. É legal, claro, ter a experiência de assistir um personagem que tem uma família e uma casa parecida com as que você teve, que fala um idioma parecido com o seu, que assistiu os desenhos e teve as mesmas piadas que você. O problema, porém, é quando só isso basta. Por mais que seja legal assistir uma atriz do meu país, que eu vejo desde criança na televisão, atuando num filme dessa dimensão e com tanto protagonismo, é muito perigoso se limitar e achar que isso é suficiente para me identificar.
Por mais que tenha se criado a noção de que o cinema estrangeiro, especialmente filmes como Besouro Azul, é melhor e mais legal, não vejo o porquê de comemorar que essas figuras, que realmente são representativas, estejam num filme que reproduz justamente o contrário do que somos só porque elas são quem são. O cinema latino, com o talento dos mesmos que participaram de Besouro Azul, consegue produzir narrativas muito mais interessantes do que essa receita de bolo que a DC, com os mesmos produtores de sempre, proporciona.
O filme até é divertido, pra mim especialmente pela “Nana Reyes”(Adriana Barraza), que é engraçada demais, mas não consegue superar a mesma “clichêzada” de sempre. Já deu tempo para pensar em coisas mais criativas do que o herói inocentão com dó de matar os outros e que bota a família em primeiro lugar e faz par romântico com a mocinha sem família contra a vilã má que se coloca contra a família, por mais que Besouro Azul consiga ser um pouco mais carismático e atrativo através da química entre Xolo e Bruna, por exemplo, e pela questão identitária mesmo, do que a maioria dos filmes recentes de super-heróis.
O complicado é que, mais uma vez, é um filme que parece que eu já vi várias outras vezes. E, com todo o respeito, não é a Bruna Marquezine – que tá muito bem no filme, não é um ataque a ela – falar duas palavras em português que vai me fazer gostar de nada. Tem vários filmes aí que – pasmem – são todos em português e são, definitivamente, melhores que Besouro Azul.
Esses padrões que são cansadamente repetidos criam uma sensação de tédio enorme pra mim. As piadas acontecem toda hora e sempre giram em torno dos escândalos nas cenas de ação que, geralmente, são tão mal coreografadas que ficam desinteressantes também. Sem falar das dramatizações constrangedoras que sempre acontecem. E elas sempre acontecem de maneira parecida também.
A Jenny(Marquezine) se juntando ao abraço de família depois de jogar a tia de um helicóptero, o ajudante coitadinho da vilã má se revoltando contra ela e se sacrificando, as piadas com a avó de passado misterioso, o beijo interrompido por algum desavisado, a conversa do protagonista sentado no telhado… tudo sempre parece puro copia e cola.
Pedro Strazza, crítico da Folha, sintetizou muito do que pensei ao assistir Besouro Azul, e vou citá-lo aqui porque escreveu algo que eu gostaria de ter escrito sobre o assunto: “Filmes de super-herói andam tão saturados da própria fórmula que agora o público se acostumou a assisti-los pelo detalhe”. A sensação é que o que faz uma pessoa média gostar do filme é escutar duas palavras em português, ver cinco segundos de Chapolin Colorado ou uma referência às guerrilhas cubanas, mas não as duas horas recheadas de coisas genéricas em discurso e estética.