Tudo em todo lugar e ao mesmo tempo

Tudo em todo lugar e ao mesmo tempo

Não há como entender “Tudo em todo lugar e ao mesmo tempo” sem mergulhar na complexidade das relações do filme .

Por trás de toda “bagunça” do Multiverso (que é também a bagunça da vida dos personagens) há uma crítica e um ode à família, destacando especialmente a conexão (ou a falta dela) entre pais e filhos.

Qualquer pessoa que sofreu com uma educação extremamente repressora consegue se reconhecer em Evelyn.

A razão pela qual a personagem pouco ousou na vida está diretamente ligada a criação autoritária recebida, na qual os erros (lembrando que diferenças muitas vezes podem ser consideradas como erros) eram pouco tolerados ou até punidos.

Somente depois de conhecer suas outras múltiplas versões, Evelyn vai compreendendo que o preço que pagou para tentar conquistar o respeito de seu pai foi muito alto.

Aos poucos, ela vai percebendo que todo seu potencial foi deixado de lado para reproduzir exatamente os mesmos moldes da criação paterna na tentativa vã de obter o seu reconhecimento.

A personagem tem dificuldade de superar as diferenças de Joy porque entende a filha como extensão dela, assim como a vida toda ela mesma se colocou como uma extensão de Gong Gong.

Por isso, a frase do frame é um dos pontos altos da história. Todos os grandes feitos de Evelyn durante o filme não teriam grande importância psíquica se sua principal motivação ainda fosse provar algo para o patriarca da família.

Mais do que ter resgatado sonhos abandonados e vidas não vividas, talvez a maior proeza da personagem foi finalmente ter se livrado do pai internalizado e o sentimento de insuficiência que ele lhe causava.

Embora as várias Evelyns tenham sido fundamentais em seu processo, tudo que nossa heroína mais precisava era se permitir ser ela mesma.

Ficha técnica:

  • Michelle Yeoh como Evelyn Quan Wang
  • Stephanie Hsu como Joy Wang, filha de Evelyn;
  • Ke Huy Quan como Waymond Wang,
  • James Hong como Gong Gong (em cantonês, “avô”),
  • Jamie Lee Curtis como Deirdre Beaubeirdre,
  • Jenny Slate como Debbie the Dog Mom,
  • Harry Shum Jr. como Chad, um chef de teppanyaki
  • Diretores: Daniel Kwan, Daniel Scheinert
  • Produção: Daniel Kwan, Daniel Scheinert, Jonathan Wang, Mike Larocca, Joe Russo, Anthony Russo
  • Bilheteria: 135 milhões USD
  • Produtoras: IAC, AGBO, Ley Line Entertainment, IAC Films
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Aline Lima

Psicanalista, cinéfila e imigrante Análise de filmes/séries e escritos aleatórios

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