Crítica: Creed III
No filme que marca a estreia de Michael B. Jordan como diretor, “Creed III” é igual, mas é diferente. A franquia “Creed”, spin-off de “Rocky”, lança o nono filme da sequência, juntando seu agora terceiro filme com os outros dois e os seis da saga que inspirou a história de Adonis Creed, interpretado desde 2015, no longa que abriu a atual saga, por Michael B. Jordan, que agora também dirigiu o lançamento.
Com oito filmes do mesmo universo, já era bem cansativo assistir a duas horas de longas com histórias iguais. Na verdade, já era cansativo para mim desde o terceiro ou quarto “Rocky”. Foram 6 filmes que intercalaram repetitivas narrativas de aposentadoria do protagonista Rocky Balboa e com os chamados “underdogs” vencendo os vilões poderosos nos finais acompanhados de personagens e cenas completamente descartáveis. Quando chega “Creed”, em 2015, narrando a história de Adonis Creed, filho escondido do icônico rival de Balboa, Apollo Creed, as coisas melhoram um pouco nos dois primeiros filmes em relação ao desenvolvimento das histórias, mas ainda repetitivas quanto ao cansativo final dos coitados – que são caracterizados forçadamente como coitados – vencendo os ditos invencíveis.
Entretanto, “Creed III” se diferencia dos demais ao subverter um pouco sua lógica de poder e também ao incrementar sua capacidade de desenvolver as tensões e personagens da trama. O filme já começa mostrando o passado, numa história um pouco obscura da adolescência de Adonis que, ao longo da narrativa, vai sendo pivô de lembranças, traumas e consequências dela ao introduzir Damien Anderson(Jonathan Majors), o Dame, como novo personagem da história. Voltando de quase duas décadas de prisão, já acima da idade ideal para o boxe e com uma série de questões morais que o envolvem, o personagem assume a perspectiva de vilão, mas, pela primeira vez, um “vilão underdog”. Um cara que veio do nada e sem nenhuma luta profissional estreando na decisão do título mundial, assim como foram Rocky Balboa e Adonis Creed no início de suas trajetórias, mas dessa vez sendo o vilão da história que, diferente da maioria, conseguiu me prender pelos diversos momentos de tensão que não só a história de Adonis Creed, mais uma vez sendo tratado de maneira mítica, mas as histórias de Dame e até de Bianca(Tessa Thompson) trazem.
Apesar dessa mudança de perspectiva sobre antagonismo e favoritismo que o filme traz, não é só por isso que o filme se destaca dos outros oito. Dame não é só o personagem que rompe com essa necessidade de ter o cara que vem de baixo sendo o herói, mas também o rival do protagonista mais bem desenvolvido do universo do filme e o mais interessante desde Apollo Creed, inclusive, o filme acaba sendo sobre ele na mesma medida que é sobre Adonis, já que suas histórias muito se entrelaçam e a relação dos dois vai ganhando elementos que deixam a narrativa atraente, apesar de alguns clichês e forçações de sempre, fora as cenas de luta que provavelmente foram as que mais me comoveram nos nove filmes ao trazer alegorias que foram construídas durantes o filme para aquele contexto específico da luta.
Com “Creed IV” já confirmado, fica a dúvida se vão conseguir dar sequência a isso de forma interessante como tem conseguido até aqui e como a franquia anterior não conseguiu, mas a história entre Adonis e Dame, além de Félix(José Benavidez Jr.), novo personagem pouco explorado, Viktor Drago(Florian Munteanu) e, especialmente Amara Creed(Mila Davis-Kent), oferece elementos e temas a serem explorados. Se só se decepciona com o que se espera algo, a maioria dos filmes Rocky não me decepcionaram, mas dá para dizer como elogio que espero que o quarto “Creed” não me decepcione.