Crítica: “Mussum, o Filmis”
Até mais do que uma cinebiografia, “Mussum, o Filmis” funciona mais como uma visita às décadas de 60 e 70.
O cinema brasileiro se apoia muito nas cinebiografias. Só hoje, estão em cartaz os filmes da Gal Costa e de Claudinho e Buchecha. No próximo dia 2, estreia “Mussum, o Filmis”, que conta a história do músico e humorista que ganhou relevância no Originais do Samba e no Trapalhões.
Dirigido por Silvio Guindane, “Mussum, o Filmis” é um pouco pragmático ao cumprir seu papel de, simplesmente, contar a história do protagonista. Com 3 atores para interpretar a infância(Thawan Lucas), início de carreira(Yuri Marçal) e o auge profissional(Ailton Graça) de Mussum, a obra não faz nada de muito surpreendente ou impressionante enquanto obra fílmica, mas serve como um bom guia da cultura televisiva, tão importante pro Brasil, na época em que se passa.
Há um esforço por parte do roteiro para tentar criar algumas dramatizações que se relacionam principalmente com a relação de Mussum com sua mãe e, depois, em relação ao alcoolismo e a saída dos Originais do Samba, além da perda do filho ainda no começo da carreira, mas todas as cenas soam mais como contação de história em si do que um drama mesmo, talvez por serem cenas mais rápidas e sem uma ambientação para criar uma tensão.
Apesar de ser uma história, mais num sentido de linha do tempo mesmo, bem contada, sinto que o personagem Mussum, mesmo que eu o admire enquanto humorista e sambista, não é interessante o suficiente para ter uma cinebiografia. O interesse que eu criei assistindo se deu bem mais pelo que comentei sobre a “visita” às décadas de 60 e 70, quando aparecem personagens como Grande Otelo, Chico Anysio Alcione e Cartola, esses sim com uma “aura” mais chamativa.
Sinto que as cenas que tratam, realmente, da vida ou carreira do protagonista, conseguem ganhar mais destaque naquilo que notabilizou Mussum na televisão, a comédia. A fase emergente da carreira dele, na interpretação do talentoso humorista Yuri Marçal, consegue produzir algumas cenas bem engraçadas, contrastando a alma leve do personagem com o trabalho no quartel, o estilo “linha dura” da mãe, interpretada por Cacau Protásio.
Quando penso no filme, o pensamento que me vem é de que não passa de uma experiência divertida de um passeio por um tempo que nem é nostálgico para mim, mas que é interessante. O negativo é que não passa disso e também nem é tão divertido assim. Mussum, tanto o personagem quanto o “Filmis”, tem talento e repertório, mas carece de força para emplacar.